Fantástico, somos mesmo um país surrealista! Pois não é que temos uma ministra do Trabalho que descumpre regras comezinhas das obrigações patronais? Claro que são coisas sem nenhuma importância, tipo assinar carteira de trabalho de empregados, pagar horas extras, conceder férias, etc, enfim, essas desagradáveis benesses que muitos patrões gostariam de proscrever do rol de direitos assegurados, legal e constitucionalmente, a quaisquer trabalhadores, por serem estes, indiscutivelmente, a parte mais frágil na relação entre capital e trabalho.
E Cristiane Brasil, a senhora ministra, nobilíssima deputada federal pelo Rio de Janeiro, filha do probo e ilibado Roberto Jefferson, presidente de um dos tantos partidos políticos - com denso conteúdo programático e inafastável compromisso com as necessidades fundamentais do estado e do povo brasileiros -, que dão sustentação ao governo desse outro verdadeiro monumento à verdade, à decência e à honra, que é o homem viril Michel Temer, naturalmente, se diz preparada para dignificar a nobre missão que lhe está sendo confiada.
E não serão condenações em ações trabalhistas que a afastarão da Esplanada dos Ministérios, pois como afirmou o ministro Carlos Marun, da secretaria de governo, "o governo está feliz com ela, a deputada tem cabedal político".
De outra parte, certamente a senhora Cristiane assume o Ministério do Trabalho tranquila porque seu substituto na Câmara dos Deputados será um desses tantos homens públicos cujos atributos éticos e conduta pessoal não encontram qualquer contestação entre seus concidadãos. Até porque essa história de sua prisão, em junho de 2016, sob a acusação de participar de uma rede de exploração sexual de crianças e adolescentes, deve ser coisa de inimigos políticos que querem prejudicá-lo e de setores da imprensa interessados em demonizar a atividade política.
De resto, em favor de Nelson Nahim, o suplente em questão deve militar a presunção de inocência, senão pelos princípios basilares do estado democrático de Direito, pelo fato de o mesmo ser irmão de outro baluarte da moral, da ética, e do respeito pela coisa pública que é o senhor Anthony Garotinho.
Sei lá, amigos, mas penso que nada mais nos pode surpreender na amada terra Brasilis. Quando pensávamos que todas as marotices e traquinagens tivessem sido perpetradas, descobrimos as falcatruas pesadas, a corrupção endêmica e os meandros apodrecidos das relações entre políticos, gestores públicos e grandes empresários, os quais, tamanha a naturalização desses procedimentos, se julgavam imunes à possibilidade de incidência da lei em suas ações ilícitas e afrontosas ao patrimônio nacional.
Pensando nessa barafunda toda, lembrei-me de uma canção de Sílvio Brito (Pare o mundo que eu quero descer), também cantada por Raul Seixas que, nos idos dos anos 1970, era um grito de rebeldia contra o estado opressor e que, às tantas, na versão do Maluco Beleza, dizia: "Pare o mundo que eu quero descer. Porque eu não aguento mais notícias de corrupção, violência que não para de aumentar. E pensar que a poluição contaminou até as lágrimas e eu não consigo mais chorar..."